terça-feira, 10 de novembro de 2009

Mu Chebabi e Mombaça: Sozinha

Na semana passada fui testemunha ocular do belíssimo show de lançamento do disco "Uma coisa, outra coisa é outra coisa" do meu "caro” (caro mesmo)amigo e parceiro Mu Chebabi no pátio do SESC de Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil. De quebra, reencontrei meus amigos Elisa Lucinda,que me botou pra ouvir "Sozinha" na sua "rádio Lucinda" e o cineasta Ricardo Bravo, novo conhecido.

No dia seguinte, Mú (pros íntimos) foi cantar na Europa, mas antes de embarcar me ligou prometendo deixar um disco pra mim, já que a quantidade que levou pra vender na estréia foi insuficiente. É claro que me vali da condição de co-autor de "Sozinha" (Mu Chebabi e Mombaça) para reivindicar meu disquinho "de grátis", né?!

Depois de ouvir todas as faixas do disco com carinho e muita atenção, resolvi escrever umas poucas linhas para postar aqui no meu blog, citando, somente, a parte que me cabe nesse latifúndio: "Sozinha", é claro. Entretanto, achei que seria uma mesquinharia braba de minha parte, omitir de vocês o resto do disco, que é maravilhoso! Foi aí que lembrei-me do magnífico release do jornalista Hugo Sukman, dissecando o álbum como um todo.Vamos a ele?

Antes, porém, parabéns Mu Chebabi.
Boa viagem, bom show no festival de cinema na Alemanha, boa turnê por Portugal e ótimo regresso ao nosso Brasil varonil, com muito axé e euros.
Grande abraço,
Mombaça

"UMA COISA É UMA COISA, OUTRA COISA É OUTRA COISA" - Por Hugo Sukman

Bem que Mu Chebabi se esforça para mostrar que “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, expressão popular que dá título ao seu segundo CD autoral.
Que uma coisa é o compositor inspirado, pop e popular de sucessos como “Hoje eu quero sair só” (de seu primeiro CD, canção conhecida na voz do parceiro Lenine e de tantos outros cantores); outra coisa é o diretor musical (ou melhor, humorista musical) por mais de 20 anos a serviço do Casseta e Planeta. Que uma coisa é o samba que sai naturalmente de sua criação de nativo do Rio de Janeiro, parceiro de malandros como Arlindo Cruz (no “Samba da globalização”, usada como vinheta da TV Globo) e Claudio Jorge; outra coisa é a influência pop de tudo quanto é música do mundo, que recebe em suas antenas fincadas na areia de sua Copacabana natal. Que uma coisa é o racionalista cético, de origem árabe-cristã mas ateu por formação; outra coisa é o cara que toca piano para “seu” Zé Pelintra, entidade-malandro da umbanda que volta e meia lhe aparece, sobretudo nos momentos de criação...
Mu Chebabi se esforça. Mas “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, título do CD que registra sua mais recente produção musical é, na verdade, uma fina ironia: nas onze canções Mu mostra que, pelo menos na sua música, tá tudo junto e misturado.
Senão ouçam “O gringo”. É samba? Um sambaço, mas com altas doses de rock e funk misturados, samba com guitarra elétrica e suingadíssima programação eletrônica. É música ou humor? As duas coisas, ótima música para ouvir em casa, tocar no rádio e dançar na festa, mas uma observação ácida e bem humorada (não fosse uma parceria com o Casseta Helio de La Peña) daquele gringo que chega por aqui e logo “Tá pegando geral/Tá passando o rodo/Tá levando só gostosa pro cafofo/Qual é!/Aquele gringo é safado tá cheio de mulher”.
Ou então ouçam a linda “Papo de abelha”, um samba à Novos Baianos, no qual a mistura de humor e lirismo está entranhada na essência da canção: na melodia grogue do sujeito que, meio bêbado, vai fazer galanteios no ouvido da menina; na brincadeira com o “z” do zumbido da abelha na letra, “Zuzu bem/Virou papo de abelha/Vou dizer um montão de ‘z’/Na sua orelha/Zoiô, zoiei/Zanzo, zanzei/Zarô, zarei/Zuô, zuei...”.
Em cada uma das faixas, Mu Chebabi exerce essa síntese, esse ponto de vista musical e existencial forjado nas misturas de Copacabana, do Rio, do Brasil. O samba calcado na levada do cavaquinho “Brasileiro – Uma agulha no palheiro” usa as tais misturas como tema. “Foi em Roraima que Ederaldo viu sua filha Odete/Aparecer num aparelho de televisão/O caboclo que sonhava em Nova York/Acabou casando e trabalhando lá no Maranhão/Japonês fechou mais cedo a pastelaria/Pra torcer na arquibancada do Pacaembu/Enquanto isso um surfista em Floripa/Já fazia feijoada à baiana com angu/São tantos tipos, tanta gente, tanta confusão/Sou brasileiro e tenho identidade, CPF, habilitação”, canta Mu sua “Aquarela do Brasil” escorada num arranjo de sopros sofisticado e moderno do também pianista Itamar Assiere.
O samba dá a coloração básica da mistura, mas o maior pavor de Mu, um devoto da melhor tradição da música carioca, era que sua criação espontânea fosse vista como oportunismo. Por isso, e também naturalmente, o samba de Mu é, sempre, misturado, diferente, pessoal, com aquele ponto de vista forjado em Copacabana. “Beth está chegando” talvez seja o melhor exemplo dessa pegada que perpassa todo o CD: é um samba, com pegada pop, gravado entre Rio e Los Angeles por um naipe de sopros da pesada, onde se destaca o trompete afro-cubano de Arturo Sandoval e com a intervenção ao modo hip hop de seu parceiro na música, o poeta Mano Mello. “Copacabana é invadida/Um satélite me espia/Não dá pra esconder”, explicita a letra.
Em “A morena”, a canção talvez mais amorosa do disco, o samba reaparece misturado com uma levada de ijexá baiano e pelo sofisticado acordeom de Chiquinho Chagas em diálogo com a variada percussão de Jovi Joviniano e o sax soprano de Mário Sève.
Já “Aquele samba que ninguém ouviu”, um “samba de maquininha” mistura-se com aquele sincopado tão samba-rock que veio de Jorge Ben e se espalhou mundo afora. É um comentário de Mu sobre o samba que gringo faz, com direito também à programação eletrônica e scratch (ambos pelo especialista DJ Roque) e outra cena bem humorada na letra, a do sujeito que quer olhar a moça que passa mas não quer que ela perceba. O samba, todo no sapatinho, parece, mais do que embalar, dizer a mesma coisa da letra com seus negaceios: “O bamba não balança quando a nega passa/O bamba não/O bamba não olha, disfarça/O bamba, não”.
Em “Seu Zé”, samba de devoto em homenagem a Zé Pelintra, tem feição clássica e evidente influência das batidas de candomblé e da umbanda, do samba antigo com direito a faca no prato. Não propriamente religioso, Mu tem fascínio e devoção real pela entidade malandra da umbanda: “Seu Zé Pelintra está numa encruza/De terno branco, não me tranque a rua/Seu Pelintra ninguém é santo/Com o encanto da morena nua”. Para acompanhá-lo nessa homenagem musical (“O gato preto sabe que a magia/Do Seu Zé Pelintra está na melodia”), Mu convocou gente da elite instrumental do samba, o violão perfeito de seu parceiro Claudio Jorge (que segura a harmonia e as levadas de várias faixas do disco), a percussão de Marcelinho Moreira.
As misturas vão além do samba. “Pianista do Cinema Mudo”, parceria com o xará Mu Carvalho (ex-Cor do Som), é uma releitura contemporânea da história do “Apanhei-te cavaquinho” de Ernesto Nazareth (“Apanhei-te Mini-Moog/E o seu Nazareth/Até bateu no cavaquinho/E depois deu no pé”). Carrega a mesma idéia original, de uma música de difícil execução que assuste o músico amador e mala que queira se meter a tocá-la. Em ritmo de um baião de Egberto Gismonti (“Coisas pra um certo/ Egberto cabeludo/Pianista de cinema mudo”), destila influências musicais que vão de Hermeto Pascoal ao choro.
“Borogodó” é a canção mais propriamente pop do disco, fluente e de levada funk, feita em parceria de Mu com sua filha Madê, de 18 anos. Já outra balada pop, “Sozinha”, parceria com Mombaça, é sofisticada, calcada nos violões virtuoses de Claudio Jorge, Luiz Filipe de Lima (no 7 cordas) e do autor, e com letra de uma violência rara em canções de amor: “Lá se vai mais um amor/Um outro amor vai chegar/E você vai acabar sozinha”, pragueja a canção, não sem o humor que sutilmente perpassa todo o disco.
Pegada pop e sofisticada ao mesmo tempo, lirismo desbragado e cheio de humor, Copacabana e sua misturas, “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, chega ao fim com uma balada que o sintetiza, “1,99”. “Tudo vai parar no camelô/Que depois corre do rapa/Por onde você procura amor/Só tem Xerox da capa/Onde você mora/Em que praia você vai/Sou Copacabana/Todo made in Paraguai”.


Sozinha
Mombaça / Mu chebabi

Vai ficar na solidão
E esse é o seu castigo
Quem mandou não esperar
Pra ir embora comigo

Saiu sem me avisar
Pra acabar com a minha festa
Quem mandou não me esperar
Quem mandou ter tanta pressa

Se você ficasse aqui
Eu ia poder te dar
Um pouco do meu amor
Mas você deixou pra lá

Lá se vai um grande amor
Um outro amor vai chegar
E você vai acabar sozinha

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Estação Mombaça e Patricia Cano

Hoje, 9 de novembro, seria o primeiro dos quatro shows de estréia do projeto Estação Mombaça, conduzido por mim, Júlia Bosco e Maria Hime no bar Sacrilégio, Lapa, Rio de Janeiro. Resolvemos parar para investirmos em ensaios melhores e sem pressa.

Em compensação, no Canadá, minha amiga e parceira canadense Patricia Cano lança seu primeiro disco solo com a canção Nada de Nieve, que inaugurou nossa recente e mui feliz parceria.
Patricia é cantora de voz e caráter raros. Espero seu canto ecoe por todos os cantos.
Viva Patrícia Cano.

Nada de Nieve
Mombaça / Patricia Cano

No quiero tu perdon
Ni me perturbes más con tus besos
No voy a preguntarte
Con quién devo guardar mis secretos

Puedo aún sufrir pero no confesaré que te amo... otra vez
Ahora decidi que es hora de vivir para mí.

Iré buscar
Algún lugar
Que tenga sol
Un cielo azul
Que tenga luz
Luna de miel
Nada de nieve...

Un mundo lleno de color
Tiempo caliente

Para vivir
Un grande amor
Un nuevo canto / un canto nuevo

Não quero o teu perdão
Nem me perturbes mais com teus beijos
Não vou te perguntar com que devo guardar meus segredos

Puedo aún sufrir pero no confesaré que te amo... otra vez
Ahora decidi que es hora de vivir para mí.

Iré buscar
Algún lugar
Que tenga sol
Un cielo azul
Que tenga luz
Luna de miel
Nada de nieve...

Un mundo lleno de color
Tiempo caliente

Para vivir
Un grande amor
Un nuevo canto / un canto nuevo