sábado, 6 de fevereiro de 2010

ÁfricaNatividade Sandra de Sá estreita os laços com a música africana em seu novo disco

Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/02/05/sandra-de-sa-estreita-os-lacos-com-musica-africana-em-seu-novo-disco-915792471.asp

O Globo
ÁfricaNatividade
Sandra de Sá estreita os laços com a música africana em seu novo disco

Plantão | Publicada em 06/02/2010 às 09h46m
Antônio Carlos Miguel

Sandra de Sá lança o disco 'Áfricanatividade' / Divulgação

RIO - Mais um trabalho de Sandra de Sá pautado pelo seu conceito de "música preta brasileira", "ÁfricaNatividade: Cheiro de Brasil" (Universal/Nega Produções) tem resultado irregular, como a própria trajetória da cantora e compositora, que completa em 2010 três décadas de carreira. Mas, em suas 15 faixas, produzidas por Sandra e sua empresária, Adriana Milagres, há bem mais acertos do que erros. E, se em 2002, no álbum "Pare, olhe, escute!", ela foi uma espécie de Sandra de Soul, ao gravar em versões para o português sucessos da gravadora Motown, agora, tendo a África como mote, volta com um perfil mais abrangente e coerente com seu histórico: Sandra de Samba e Soul.

Ouça 'Baile no asfalto', com Sandra de Sá e Seu Jorge:

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Com exceção de "Sina" (Djavan) e "África" (Gil Gerson e César Rossini), o repertório é assinado pela cantora, em algumas faixas retomando a parceria com Macau (autor de um de seus primeiros sucessos, "Olhos coloridos"), em outras com seu parceiro mais frequente na última década, Zé Ricardo. O leque estilístico é grande, passando por samba-canção, samba-funk, balada soul, ecos dos batuques ancestrais e elos com a juju music (o pop africano dos anos 1970), e reafirma que Sandra consegue encontrar uma identidade a partir de tantas referências. Entre os destaques está "Viver pra viver", inspirado samba-canção, parceria de Sandra com Zé Ricardo que é emoldurada pelas intervenções de Rildo Hora na gaita (ou harmônica-realejo). Também deu boa liga o encontro com Seu Jorge em "Baile no asfalto" (Sandra e Mombaça), samba que traz em sua letra uma crônica do subúrbio carioca: "Tá rolando um som/ Na esquina tem um churrasco de gato/ Galera celebrando o baile no asfalto". Outro bom samba-canção de Sandra e Zé Ricardo, "Copacabana" fotografa no século XXI o bairro tão cantado pela MPB: "...linda, gostosa, caliente/ Pura excitante pra mente/ Santa inocência prostituída/ Drogada, humana, cheia de vida/ Apaixonante, apaixonada/(...)/ Seu coração bate/Seu pulso pulsa/ Sua alma vibra/ No coração dos amantes/ Na cabeça dos malucos/ Na coragem dos loucos / Na fraqueza dos machos/ Na ousadia das bibas/ Nortistas, nordestinos, velhos...". Já "Tem alguma coisa errada aí", parceria com Macau, é um samba com andamento funk que revela as possíveis afinidades entre os dois ritmos.

Duas baladas com formato pop têm como interesse as participações de artistas africanos: "Evoluir" (parceria com Renata Arruda), conta com o rapper angolano MC K, enquanto "Fé" apresenta a cantora e compositora cabo-verdiana Ana Firmino. Ambas são canções insossas, mas não derrubam o CD, que tem mais bons antídotos no repertório, incluindo a regravação de "Pé de meia", composição que ela tinha lançado num de seus primeiros discos.

Desde "Demônio colorido", composição que defendeu no Festival MPB 80 e seu cartão de visitas na música brasileira, Sandra tem se pautado por esse sincretismo de ritmos e sotaques musicais. Algo natural para uma neta de cabo-verdiano, cujo pai era baterista e que, desde a adolescência, tanto frequentou bailes de gafieira e rodas de samba quanto festas de música soul no subúrbio de Pilares, no Rio.

Após o sucesso no festival, Sandra manteve esse perfil eclético: gravou com Tim Maia o dueto "Vale tudo"; dividiu shows com o Barão Vermelho, época em que o grupo tinha como cantor o seu amigo Cazuza; gravou "Enredo do meu samba", de Dona Ivone Lara e Jorge Aragão, para abertura de novela da Rede Globo; e emplacou seguidas baladas românticas nas paradas de sucesso, incluindo "Retratos e canções", "Bye, bye tristeza" e "Solidão".

Agora, em "ÁfricaNatividade", Sandra de Sá mostra que tem talento e inspiração para muitas décadas mais de carreira.

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