domingo, 7 de fevereiro de 2010

Emílio Santiago regrava sucesso de Mombaça e Mart'nália

Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/02/06/cd-de-emilio-santiago-leva-de-volta-ao-som-de-ed-lincoln-915798435.asp
O Globo
Cultura
CD de Emílio Santiago o leva de volta ao som de Ed Lincoln

Publicada em 07/02/2010 às 09h52m
Antônio Carlos Miguel

Enílio Santiago

Ao mesmo tempo em que inaugura um novo momento na carreira de Emílio Santiago, na estreia de seu selo discográfico, Santiago Music, o CD "Só danço samba" é uma volta no tempo, homenageando aquele que foi seu primeiro empregador na música, Ed Lincoln. Emílio selecionou canções que estavam no repertório dos grupos do organista e procurou reproduzir a sua sonoridade de "sambalanço".

- Foi meu primeiro trabalho profissional, no início dos anos 1970, e também uma grande escola. Pelo grupo de baile de Ed Lincoln passaram alguns dos melhores músicos brasileiros - relembrou o cantor, na semana passada, antes de ser internado com suspeita de diverticulite.
Ouça "Deix'isso pra lá"

Aos 64 anos, ele mostra nesse disco continuar o melhor intérprete masculino de sua geração, com um belo timbre, grande extensão vocal e técnica perfeita. Produzido por José Milton, com direção artística do cantor, "Só danço samba" foi o brinde de fim de ano de um banco e agora ganhará edição comercial.

- Estamos avaliando a melhor opção, se negociaremos com uma gravadora ou faremos um contrato de distribuição - explica o cantor, que, negócios à parte, está empolgado com o resultado artístico. - O estilo de Ed Lincoln foi a base para muito do que fiz depois. E alguns dos músicos que passaram pelos grupos dele também trabalharam em meus discos.

Sucessos da bossa nova em versões mais dançantes

O repertório do tributo alterna material original lançado pelo conjunto de Lincoln - incluindo composições do próprio organista ou de seus cantores e músicos, como Orlandivo, Durval Ferreira e Silvio César - e sucessos da época, também gravados em seus discos, como a faixa-título, "Só danço samba", "Influência do jazz" (Carlos Lyra) e "Samba de verão" (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle).

- Mas acrescentei algumas músicas recentes, que, no meu entender, têm tudo a ver com o estilo e a sonoridade de Ed Lincoln. Foi o caso de "Chega", de Mart'nália e Mombaça - conta Emílio, que, para conseguir o tal toque de Lincoln, cercou-se de músicos como Julinho Teixeira (arranjos, piano e órgão), José Carlos (violão e guitarra), Jorjão Barreto (arranjos e piano), Dirceu Leite (saxofone e flauta), Jamil Joanes (baixo), Paulo Braga (bateria) e Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn).

Aos 77 anos, o organista e arranjador Ed Lincoln vive em Teresópolis e sofre com problemas pulmonares e de coluna. Sem condições físicas para um encontro com Santiago, que seria documentado pelo GLOBO, ele preferiu responder a algumas perguntas através de um parceiro, Luiz Paulo Abrahão (coautor de "Deix'isso pra lá", uma de suas canções agora regravada em "Só danço samba").

- Estou muito magro, quase não levanto da cama. Mas gostaria de comentar algo sobre essa homenagem, ainda mais vinda de Emílio Santiago - justificou, por telefone, o músico, que, nos anos 1960, liderou o conjunto de baile mais requisitado do Rio.

Natural de Fortaleza, onde nasceu em 31 de maio de 1932, Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia chegou ao Rio em 1951, inicialmente tocando contrabaixo - em sua estreia discográfica, em 1955, ele é o contrabaixista do LP "Uma noite no Plaza", num trio com Luiz Eça (piano) e Paulo Ney (guitarra). Após trocar o baixo pelo piano, encontrou a sua sonoridade e implantou a sua marca como organista, a partir do início dos anos 1960. À frente das gravadoras Musidisc e Savoya Discos, gravou muitos LPs, creditados a ele mesmo ou a conjuntos fictícios como The Lovers e 4 Cadillacs. No estúdio ou em seu grupo de baile, reuniu instrumentistas como Bebeto Castilho, Durval Ferreira, Alex Malheiros, Márcio Montarroyos, Luiz Alves e Wilson das Neves, e cantores como Orlandivo, Silvio Cesar e o então iniciante Emílio Santiago.

- Eu não convidaria a fazer parte do grupo alguém que destoasse musicalmente. Emílio era bem moço, mas o talento e a voz já estavam presentes. Claro que o tempo trouxe aprendizado e experiência, resultando no cantor atual - conta o músico e arranjador, que percebeu no tributo do cantor uma busca pelo estilo "Ed Lincoln". - Fiquei contente, claro! Sem dúvida, é bom ver, depois de tanto tempo, um artista do nível do Emilio, reconhecido pelo bom gosto na escolha de repertório, dedicar um trabalho inteiro ao resgate da nossa sonoridade. Nós tivemos sempre a preocupação de fazer um som que tivesse uma identidade.

Lincoln também comentou a seleção do repertório.

- Foram muitas músicas gravadas, e seria difícil selecionar as que deveriam obrigatoriamente entrar. Acho que ele certamente escolheu as preferidas em um primeiro apanhado. Se ele procurar, acaba fazendo outro disco. O nosso repertório era fruto de diversas parcerias entre nós do conjunto e outros parceiros que conviviam intimamente conosco. O fato é que quando chegava a época de gravar, eu mesmo ficava indeciso para escolher o repertório. Todos compunham e eram parceiros. Inclusive eu.

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